O desenvolvimento do turismo de fronteira através dos free shops

O desenvolvimento do turismo de fronteira através dos free shops

Por Manuel Suárez Cacheiro Espanhol, brasileiro naturalizado. Presidente do Sindihotel, Fundou o primeiro Hotel Suarez Executive em 1981. Administrador de 14 hotéis. É Vice-Presidente da Fecomércio Rio Grande do Sul, Conselheiro do Senac Regional e Nacional e Presidente do Conselho de Turismo da Fecomércio RS.

A regularização dos free shops do lado brasileiro da fronteira foi finalmente consolidada. De acordo com a Lei nº 12.723, as lojas francas podem ser instaladas em cidades gêmeas com mais de dois mil habitantes – e são 29 cidades aptas em todo o território nacional. Para discutir maneiras de incentivar o turismo nessas regiões, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), através do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade – CETUR, criou o Grupo de Trabalho (GT) Turismo de Fronteira, uma comissão com representantes de todos os estados que possuem cidades habilitadas a instalar free shops. Esse GT analisa o potencial das oportunidades que surgirão com os investimentos de lojas francas no lado brasileiro. Logo nos primeiros encontros, foi identificado que os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná são os que detêm o maior número de cidades coirmãs com alta capacidade de desenvolvimento. Além disso, ficou evidente a necessidade de atuar em conjunto com o setor terciário (comércio e serviços) para promover um turismo receptivo de alto padrão nessas regiões. Além de trazer maior desenvolvimento para as regiões fronteiriças, os free shops concentrarão boa parte do capital despendido por turistas nas compras em território nacional. Esse tipo de comércio possui grande potencial para aumentar o fluxo turístico nas cidades brasileiras que fazem divisa com países vizinhos, servindo de gatilho para desenvolver setores como o gastronômico, o hoteleiro e o de eventos. Outro ponto importante desse tipo de turismo é o aumento na geração de empregos e, consequentemente, na prosperidade das comunidades. O primeiro desafio do GT Turismo de Fronteira está sendo desenvolver o turismo de compras já existente nas fronteiras do Rio Grande do Sul com Uruguai e Argentina; Paraná com Paraguai e Mato Grosso do Sul com Paraguai. Essas regiões já recebem um público expressivo com interesse em compras, mas muitas vezes não encontram um turismo receptivo de qualidade, com informações turísticas e opções estruturadas de roteiros. A ideia da comissão é, depois de desenvolver as regiões que já recebem fluxo turístico por conta das compras, implantar as ações nas demais regiões do País. O primeiro passo será separar as regiões que possuem uma malha rodoviária de qualidade e as que recebem o fluxo através do transporte aéreo. Como o Brasil é um país de dimensões continentais, que exigem investimentos vultosos, é imprescindível divulgar os caminhos mais curtos e seguros para amenizar as dificuldades de acesso.

Como desenvolver o turismo de fronteira

O primeiro passo é ouvir o cliente para saber do que ele precisa e, se possível, descobrir o quanto ele quer pagar por isso. Depois, identificar em qual tipo de turismo ele se encaixa: corporativo, eventos, compras, lazer, etc. O ideal é tentar encaixá-lo em mais de uma categoria, fazendo com o que o seu interesse na região visitada seja maior e que, consequentemente, ele necessite ou queira ficar mais tempo. Devemos entender que o crescimento do turismo é lento, mas que, apoiado em excelentes produtos e serviços, além da prática de preços competitivos, é possível evoluir de forma contínua. Além disso, é fundamental alinhar o discurso entre o setor público e a iniciativa privada, para que as ações e reivindicações sejam semelhantes, dando consistência ao trabalho proposto. Existem dois grandes fatores que identificam o comprometimento do setor público com o turismo regional. O primeiro deles é a participação ativa na promoção e realização de eventos. O segundo refere-se aos recursos destinados à promoção do turismo receptivo na cidade. Os estados do Sul do País vêm se destacando no turismo de eventos aliado ao turismo de compras. Já existem, naquelas regiões, congressos e seminários de nível sul-americano, que, aliado às compras, aumentam a ocupação dos hotéis e melhoram o gasto médio diário por turista. Devemos entender que o crescimento do turismo é lento, mas que, apoiado em excelentes produtos e serviços, além da prática de preços competitivos, é possível evoluir de forma contínua. Tratar o turista como se fosse um hóspede frequente, que voltará todos os meses e que vai indicar o destino para os amigos, é essencial para a fidelização. Lembre-se que você só volta para onde é bem recebido, e que as regiões que mais se desenvolvem turisticamente são as que têm vocação para receber bem. Esse compromisso também se aplica aos órgãos públicos, que devem oferecer infraestrutura adequada aos tipos de visitantes que recebe. Boas estradas, sinalização e segurança, aliados a bons hotéis, opções gastronômicas, guias turísticos, passeios e roteiros de compras, são a receita para o sucesso.

O turismo de compras atrelado ao turismo de eventos e corporativo

O segmento de eventos cresce mesmo em tempos de crise, é o que apontam recentes pesquisas do setor. Cerca de R$ 854 bilhões – 13% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional – foram movimentados no Brasil no último ano graças a eventos dos mais variados tamanhos e estilos. Para 2019, a tendência é de que esse número aumente. Geralmente, a movimentação econômica de um evento começa com o transporte (passagens de avião ou ônibus), passando por hospedagem e alimentação até as compras. O fluxo turístico trazido por um evento costuma começar dias antes de ele começar. É quando chegam à cidade os profissionais responsáveis pela montagem e, também, os expositores – aqueles que vêm de outros locais. Quando o público chega, é preciso estar preparado, com a infraestrutura em dia e opções de hospedagem e alimentação para todos os gostos e bolsos. Além disso, atrações turísticas e de compras podem fazer com que os visitantes deem uma esticadinha e permaneçam mais tempo na cidade – e aí está a importância de pensar no Turismo de forma ampla, não atendendo apenas às necessidades básicas de quem chega, mas também criando atrativos que faça o visitante ficar mais e querer voltar. Em regiões de turismo corporativo, como as que recebem feiras, as compras são um atrativo à parte e podem, inclusive, complementar a ocupação dos turistas nos fins de semana. É preciso fazer o máximo possível para que o hóspede descubra atividades extras, que vão além dos compromissos profissionais.

 O turismo de compras atrelado ao turismo de lazer

Segundo estudo de competitividade para o Turismo realizado pelo Fórum Econômico Mundial (FEM), o Brasil está em primeiro lugar em atrativos naturais, em um ranking de 136 países. Isso é de grande valia para um país como o nosso, com tantas paisagens e climas diversos. Portanto, é preciso incrementar o turismo das cidades fronteiriças, aquelas que recebem o turismo de compras com roteiros e estruturas de lazer. Enxergar o que cada região tem de melhor, e investir nisso, é o que destaca as cidades que entendem o valor do Turismo. No Rio Grande do Sul, durante o verão, cerca de sete mil Segundo estudo de competitividade para o Turismo realizado pelo Fórum Econômico Mundial (FEM), o Brasil está em primeiro lugar em atrativos naturais, em um ranking de 136 países 30 veículos estrangeiros passam por dia apenas na BR-290, que liga a Argentina ao Brasil. A maior parte desses turistas tem como destino final as praias dos litorais gaúcho e catarinense. Porém, muitos deles pernoitam nas cidades fronteiriças, onde consequentemente acabam consumindo. Para esticar a permanência dos argentinos nas cidades de fronteira, alguns hotéis já investem em estratégias de divulgação de roteiros na região. Com os free shops do lado brasileiro, esta permanência pode aumentar. É preciso lembrar de que uma região turística de sucesso deve conter hospedagem, alimentação, transporte e opções turísticas acessíveis e de qualidade. Se tudo funcionar bem, o público não apenas voltará à região, como se tornará cada vez maior e, consequentemente, trará mais e mais prosperidade para as cidades. Manuel Suárez Cacheiro Espanhol, brasileiro naturalizado. Fundou o primeiro Hotel Suarez Executive em 1981. Administrador de 14 hotéis. Presidente do SINDIHOTEL, Vice-Presidente da Fecomércio Rio Grande do Sul, Conselheiro do Senac Regional e Nacional e Presidente do Conselho de Turismo da Fecomércio RS.

Artigo publicado na Revista Turismo em Pauta